Epílogo

Epílogo


Theresa carregava o pesado caixote com algum esforço, descendo um degrau de cada vez, para não arriscar cair. Sarah, uns passos atrás, adotava a mesma estratégia – se bem que em seus braços não seguia mais do que um velho peluche que Taylor ganhara para ela. O que a impedia de ver os seus pés não era caixote nenhum, e sim sua enorme e redonda barriga.

Agora com 14 anos, Theresa estava uma adolescente muito parecida a Sarah, com seus cabelos castanhos e compridos flutuando atrás de si a cada passo que dava. Taylor costumava dizer que, quando a via de costas, parecia-lhe ter regressado ao passado de novo. Theresa adorava rebater que todos eram muito mais estilosos nos dias que corriam – por mais que agora estivesse ansiosa para rever as caixas de roupa que pertencera à irmã, quando tinha a sua idade.

A razão para a limpeza súbita ao antigo quarto de Sarah era simples: por se ter tornado numa espécie de quarto de arrumações que só era reordenado quando havia hóspedes, ele abrigava os velhos brinquedos e outras coisinhas das duas meninas. E como, pela primeira vez, Sarah estaria tendo uma menina, achou por bem ver o que poderia aproveitar. Teria feito o mesmo na sua gravidez de Matthew, há quatro anos atrás, mas Taylor e ela simplesmente não conseguiram arrumar o tempo para ir até Franklin, sendo que a Paramore estava lançando um álbum na altura e Sarah acabava de ser promovida a editora-chefe da melhor revista de música de L.A. Agora, as coisas tinham acalmado, e Sarah só queria desfrutar o máximo possível da gravidez.

As duas irmãs haviam chegado ao fundo das escadas. Theresa pousou o pesado caixote e bufou, mas logo recuperou do cansaço, espreitando para poder descobrir o que o retângulo de papelão guardava com tanto segredo.

- LIVROS! – ela explodiu de animação, perguntando-se porque não sabia já daquela coleção. Ela era meio que viciada em leitura, do mesmo jeito que Sarah fora viciada em música com a mesma idade.

- SHHH! – a resposta veio do sofá, no timbre inconfundível de Taylor. Sarah aproximou-se calmamente.

- Finalmente? – ela sussurrou. Taylor assentiu ao de leve e suspirou. No seu colo, Matthew dormia uma sesta tardia. Seria ainda mais difícil adormecê-lo nessa noite. – Pena que ele só tem essa cara de anjinho dormindo.

- Hey – a voz de Theresa chamava, também em sussurro, a atenção dos dois (como era estranho qualificá-los assim quando já tinha visto muitas provas em contrário) adultos – não denigra as qualidades angélicas do meu companheiro de aventuras!

Sarah riu baixinho e sentou-se ao lado do marido, enquanto Theresa voltava a explorar o conteúdo desconhecido da caixa. A maior afinal, eram livros didáticos (o que, vamos admitir, não era tão interessante assim, quem quer ler 500 páginas de texto didático sobre química?) e cadernos, mas havia alguns livros de aspeto interessante por ali. Ela selecionou-os e tirou-os para fora da caixa, empilhando-os. Passou a folheá-los um a um – isto, até achar um que, embora parecendo um livro de capa dura, era, na verdade, uma espécie de agenda… Um diário talvez. Estava completamente rabiscado com a letra juvenil da irmã, e ao observá-lo melhor, Theresa entendeu que o que estava ali não eram simples apontamentos escolares.

Levantou-se e foi sentar-se no braço do sofá, ao lado da irmã. A sua face intrigada avivou a curiosidade de Taylor e Sarah.

- O que é isso? – ela perguntou, novamente em sussurro, enquanto passava a encadernação para as mãos da mais velha, que, abrindo e lendo a primeira página, entendeu imediatamente do que se tratava. Olhou significativamente para Taylor e voltou para ele a página escrita.

- Tal como um bumerangue – ele murmurou, mais para si do que para elas, e esboçou um largo sorriso. Sarah concordou e retornou-o, num gesto cheio de significado, de novo às mãos de Theresa.


- Isto, minha irmã… é uma longa história.

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